O acesso ao crédito pode transformar projetos de vida e oferecer alívio em momentos de dificuldade, mas sem preparo adequado, o empréstimo pode se tornar uma armadilha que compromete o futuro financeiro das famílias. No Brasil, onde o crédito ampliado às famílias alcançou R$ 4,3 trilhões (36,3% do PIB), a disseminação de conhecimentos financeiros é tão urgente quanto o próprio acesso ao crédito.
Este artigo explora como a educação financeira deve caminhar lado a lado com a oferta de empréstimos, promovendo um consumo consciente, prevenindo o superendividamento e fortalecendo a economia doméstica. Por meio de dados, iniciativas e estratégias práticas, esperamos inspirar ações concretas e responsáveis.
Nos últimos doze meses, o volume de crédito às famílias cresceu 12,6% nos últimos 12 meses, refletindo maior confiança dos bancos e fintechs no mercado consumidor. Ainda assim, cerca de 17% dos brasileiros recorrem ao cartão de crédito ou cheque especial para pagar contas rotineiras, percentual que sobe para 24% entre os jovens.
Além disso, muitos brasileiros utilizam o crédito em situações de emergência, quitando dívidas antigas ou arcando com despesas de saúde, o que revela a falta de reserva financeira e a dependência de linhas de alto custo.
Embora o crédito esteja disponível, quase 70% dos tomadores de crédito ignoram o impacto real das parcelas no orçamento familiar. Dados indicam que 83% não sabem a taxa de juros que estão pagando, e 54% jamais receberam qualquer orientação financeira ao contratar um empréstimo.
Esse descompasso entre oferta e preparo resulta em inadimplência crescente: cerca de 40% dos adultos brasileiros estão em situação de atraso. O superendividamento, em ascensão, muitas vezes leva ao comprometimento de até metade da renda mensal e à exclusão de serviços bancários.
Reconhecendo o problema, o governo brasileiro lançou, em 2010, a Estratégia Nacional de Educação Financeira, mobilizando o Ministério da Educação, o Banco Central e outras entidades. Desde então, mais de meio milhão de alunos participaram da Olimpíada do Tesouro Direto, promovendo noções de finanças pessoais.
Em 2024, a Olimpíada envolveu 540 mil estudantes de mais de 6,5 mil escolas, demonstrando que a educação financeira pode crescer quando atrelada a prêmios, reconhecimento e temas práticos. Programas voltados a públicos vulneráveis, como aposentados e beneficiários de bolsas sociais, ganham tração graças a parcerias com organizações não governamentais e fintechs.
Ao adotar práticas como essas, o consumidor passa a ter controle sobre suas finanças, prevenindo surpresas e garantindo o uso consciente do crédito.
Políticas públicas voltadas à educação financeira precisam avançar em dois eixos simultâneos: garantir transparência nos contratos de crédito e democratizar o acesso a materiais didáticos de alta qualidade.
A principal barreira continua sendo o analfabetismo financeiro, que demanda soluções criativas e colaborativas. A incorporação de finanças pessoais no currículo escolar, somada a iniciativas comunitárias e à tecnologia, pode criar uma nova geração de consumidores conscientes.
Instituições de ensino, bancos, fintechs, governo e sociedade civil têm papéis complementares. Ao unir esforços, é possível reduzir a assimetria de informação no mercado de crédito e combater práticas abusivas, tornando o empréstimo um instrumento de crescimento, não um fardo.
No Brasil, democratizar o conhecimento financeiro é tão essencial quanto ampliar o acesso ao crédito. Somente quando essas duas forças atuarem juntas poderemos construir famílias e comunidades financeiramente saudáveis, capazes de enfrentar imprevistos e realizar sonhos com segurança e responsabilidade.
Referências